9 de mai. de 2007

Previsão de tempo - Nathan de Castro

Previsão de Tempo


Tem um “mar morto”
engarrafado
em recipientes de água mineral,
enlatados,
refrigerantes e bebidas de todos os tipos.
Tem um “mar morto”
dentro de caixas-d’água,
piscinas, redes de esgoto e de distribuição de água.
A Terra reclama.
A Terra é um ser vivo e como tal,
precisa de água para sobreviver
e o instinto de sobrevivência fala alto.
Assistimos ao degelo polar,
que nada mais é do que uma defesa do Planeta.
Falta água?
Vamos ao degelo.
Há milhares de anos,
os dinossauros ameaçaram a vida da Terra
e foram dizimados pelas células de defesa ou,
talvez, por algum remédio
aplicado pela mãe Via Láctea.
Uma injeção de meteoros, por exemplo...
Tratamento de choque.
As células de defesa se apresentam
em forma de sinais da natureza:
furacões, tufões, terremotos, tsunamis e tantos mais...
Parece que não bastam
para parar a ofensiva
desse novo predador: o homem.
Para um doente que caminha
a passos largos para o estado terminal,
existe a necessidade de exterminar
ou dizimar o vírus.
Esse vírus que fabrica gases tóxicos,
agride as membranas do pulmão,
injeta bilhões de litros de esgotos por dia
nas veias do planeta...
O mar, coração da Terra,
continua a pulsar forte,
mas o desequilíbrio é evidente.
O vírus continua a extrair daqui
e transportar para outros cantos do corpo terrestre,
milhões de toneladas de ferro, petróleo, madeira
e tudo o mais que se possa transportar,
inclusive para a órbita do planeta.
As intermináveis queimadas
provocam chagas profundas
e lançam na atmosfera a fumaça da destruição
e a Terra chora chuvas ácidas.
A temperatura aumenta.
A febre é quase insuportável
e a Lua, impassível,
assiste atordoada à mudança
das cores do Planeta Mãe.
Não. A Terra já não é azul.
Tem um cinza envolvendo
a poesia dos mares e montanhas.
Tem concreto demais,
tem asfalto demais
e os poros obstruídos provocam
as enchentes dos rios.
As metrópoles sofrem.
As águas descem a ladeira da velha cidade.
Uma criança brinca de chutar a enxurrada.
A esperança está ali,
nos pés e mãos da criança
que traz o sorriso e o brilho
da poesia nos olhos.
Infelizmente, a vacina vence.
A criança cresce
e as palavras não chegam aos ouvidos
das células detentoras do poder.
No peito do poeta
fica um vazio de mil beijos
lançados ao vento
a sensação de impotência,
quando o planeta pede colo.
A previsão é de mais um dia de sol.
A Terra pede colo
e a lua estende o manto
da morte sobre o corpo da Mãe Natureza...
Se a morte pode o beijo,
o abraço e o acalanto,
pode o destino, o sol e os lábios da nobreza.
Se a vida é uma canção sem volta,
todo pranto é inútil,
pouco e cabe no olhar de tristeza
da estrela que admite os sons de novo canto,
para cumprir a sina e a escrita sobre a mesa.
É preciso voltar ao tempo das cavernas!
Reescrever a história do planeta Terra
com tintas de poesia em telas de mudanças.
É preciso salvar o verbo
e essas eternas poeiras de paixões,
o ar, o mar e a serra,
para evitar que o homem mate as esperanças.

Nenhum comentário: